Lisboa deveu muito da sua centralidade política, económica e demográfica ao Império. Quando em 1822 o Brasil se tornou independente, uma parte do dinamismo da principal cidade do reino perdeu-se e Lisboa entrou num período de relativa estagnação. A implantação do Liberalismo, a paz e dinamismo da época da Regeneração e duas décadas de crescimento económico (1870 a 1890) levaram a nova expansão e à definitiva "macrocefalia" da capital. A cidade cresceu em número de habitantes, cresceu em território a partir de 1886 e cresceu ainda em conflitualidade política após a crise do Ultimatum de Janeiro de 1890.
As duas últimas décadas da Monarquia Constitucional vão ser agitadas pela crise financeira, pelo republicanismo, pela profunda transformação urbana. Em 1910 chega a Revolução do 5 de Outubro, começa a República, mas não termina a conflitualidade. Para além da agitação política, a cidade é afectada pela contestação social, pela Primeira Guerra Mundial, pela Pneumónica e em 1926 vê chegar a Ditadura e pouco depois o Estado Novo. Apesar das tentativas de resistência republicana, o novo regime transforma-se com base no autoritarismo e, ao mesmo tempo, procura transformar a capital novamente na sede do Império. Lisboa cresce até à década de 1950, mas os ventos do pós-Segunda Guerra Mundial, a Guerra Colonial, a repressão, a emigração geram novo período de estagnação e criam o ambiente para a explosão de liberdade que representou a Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974. Momento fundador da Democracia, o golpe militar e a agitação revolucionária passam uma vez mais pela cidade de Lisboa.
Com o projecto "Lisboa em (R)evolução" procurar-se-á investigar, registar e divulgar - de uma forma academicamente rigorosa, mas também apelativa para o público em geral - os eventos e a geografia da movimentação popular, da agitação política, dos protestos, das revoltas e das revoluções que tiveram o espaço da cidade como palco, entre 1890 e 1974.
Daniel Alves